Entrando de Sola - Amor à Primeira Vista
Eu estava me sentindo feliz. Feliz profissionalmente, feliz moralmente, querido pelos amigos, com uma vida estável e sem maiores problemas. Só faltava encontrar um grande amor.
É verdade que parentes eu não tinha mais nenhum. Nem companhia. Mas tudo corria tão bem a meu redor que eu via minha solidão como uma manifestação de independência, e a aproveitava para estabilizar minha vida, comprando meu apartamento, me desenvolvendo em minha profissão, até realmente chegar o momento certo de partilhar minha existência com alguém. Trocando em miúdos, eu não me via como alguém sozinho no sentido triste da palavra, mas sim como um cara que fatalmente encontraria o rapaz certo no momento certo, e que construía seu dia a dia pedrinha a pedrinha até que, e para que, esse momento chegasse! Felicidade não é a obrigação de ter alguém, mas a certeza de que a hora ideal para o amor fatalmente chegará! Está certo, eu já estava com quarenta e cinco anos – mas há um tempo para tudo e, afinal de contas, eu estava atravessando uma fase tão encantatória em minha vida que conseguia relaxar até mesmo no local onde me encontrava agora: o consultório do dentista. Sim, o temido consultório do dentista, o mítico local que geralmente enche de medo a maioria das pessoas, e que nivela por baixo o operário ao multimilionário, o rico ao pobre, o opressor ao oprimido, o bom ao mau – porque, afinal, bateu dor de dente, não há como escapar do motorzinho.
Oras, nem com dor de dente eu estava. Era apenas um check up de rotina, num finalzinho de tarde em que eu podia me tratar sem atrasar nada em minha vida, em uma boa clínica perto tanto da minha casa quanto da firma de arquitetura na qual eu trabalhava, e que oferecia um ótimo tratamento a preços acessíveis. Adolescente eu já não era mais, e é sempre bom verificar todos os pormenores relacionados à nossa saúde. Assim, lá estava eu, na sala de espera do consultório, aguardando atendimento e folheando tranquilamente uma revista.
Foi folheando a revista que eu vi a foto dele.
Na verdade, não era bem uma foto dele – era a propaganda de um parque aquático, na qual um jovem rapaz e três moças escorregavam em um tobogã em direção a uma piscina, molhados, sorridentes, alegres, irradiando prazer de viver.
As moças certamente eram lindas, mas com todo respeito não me interessavam. Agora, o rapaz... ele estava bem no centro da foto, escorregando no tobogã, apenas de sunga, cercado pelo trio de damas. Seu rosto estava ligeiramente inclinado para trás, o largo sorriso exprimindo toda a alegria do mundo, as pernas esticadas, e, em primeiríssimo plano, o detalhe anatômico que mais me interessou, que me chamou a atenção, que me detonou de vez: as solas do modelo. Seus pés enormes, nitidamente molhados, os calcanhares rosados, as solas enrugadas, pareciam que iam sair da revista e se esfregar em mim. Se há uma coisa que me fascina são pés grandes de homem, e os daquele rapaz estavam na posição que eu mais amo: ostentando as solas de forma contraída, com todos os vincos e rugas que essa contração proporciona a um pezão daqueles.
Meus olhos atingiram um grau muito especial de êxtase ao apreciar aquela foto, enquanto meu polegar acariciava aqueles pés através das páginas da revista, formando um triangulo de mágica excitação com meu pênis, que já se movimentava cruelmente dentro de minha calça.
Nesse momento o dentista me chamou.
Deixei a revista sobre a mesa, tendo o cuidado de ver-lhe o título, e ingressei no consultório, a fim de iniciar meu tratamento. O check up não indicava nada grave, e eu ainda aproveitei e fiz uma boa limpeza dentária. Porém a verdade é que pouca atenção prestei à consulta: meus pensamentos estavam concentrados no rapaz da foto e em um grande amigo.
Saulo era meu chapa de infância e um publicitário de excepcional qualidade. Certamente, poderia me ajudar a identificar o modelo da propaganda do parque aquático. Ao sair do consultório, a primeira coisa que fiz foi comprar um exemplar da revista. A segunda foi telefonar para ele.
– Saulo?
– Fernando! Há quanto tempo!
– É verdade. Ouça, eu precisava de um favor seu. Você poderia me ajudar a localizar o modelo que está na fotografia de uma propaganda?
– Poder, acho que posso. A maior parte dos modelos deixa currículos em todas as agências, inclusive na minha. Agora, posso perguntar para você o motivo?
– Descobri que sou um serial killer psicopata e quero degolar ele.
Gargalhamos a altos brados em ambos os lados da linha telefônica.
– Não, é que... ah, Saulo, eu achei ele tão lindo...
– Você não toma jeito, hein? – o tom de voz de meu amigo de infância indicava claramente que ele estava se divertindo.
– Ok, Nando, você não é mais nenhum menino para continuar solteiro e eu vou ficar feliz de bancar o cupido para você. Qual foi a propaganda que esse rapaz participou?
Eu já podia sentir meu amigo hetero teclando no computador para identificar o gatinho.
Disse que era a do parque aquático. E, de certa forma, mesmo sem haver escutado som algum, posso dizer que cheguei a sentir quando Saulo parou de digitar.
– Eu sei qual propaganda é essa, Nando. Eu conheço o rapaz.
Eu não consegui acreditar no que havia acabado de ouvir.
– Você... Saulo, você conhece o rapaz?
– De vista, eu não sou íntimo. Mas ele tem currículo aqui na agência, já fez testes conosco. É um jovem modelo que está prestes a explodir na profissão, ele é muito bonito e muito talentoso.
– Saulo, você acha que... bem, eu teria alguma chance com ele? – e aumentei a firmeza do tom. – bom, ele é gay feito eu ou hetero como você?
Até telefonar para meu amigo, um dos meus maiores medos é que o rapaz fosse hetero.
Saulo demorou a responder, o que me angustiou mais.
– Olha, Fernando, certeza eu não posso dar... eu acho que ele joga no seu time, sim... mas você teria que verificar com o rapaz, de qualquer forma. – Saulo parecia estar escolhendo as palavras. – Eu acho que vocês formariam um lindo casal, mas como eu vou saber a orientação sexual do cara? Só se eu o conhecesse muito, muito bem.
– Saulo, você pode me conseguir o endereço e o telefone dele?
Havia gravidade na voz de meu amigo ao responder:
– Não, Nando, eu não posso. Ante a resposta inesperada, que teve o efeito de um balde de água gelada, permaneci em silêncio.
– Eu posso ser demitido se fizer isso. Os dados dos clientes e dos agenciados são particulares.
Fiquei sem saber o que dizer. Eu não queria prejudicar o Saulo.
– Mas libero pra você. Anota aí.
Não, eu não poderia prejudicar meu amigo.
– Oh, amigão. Mas não vai te prejudicar?
– Não se você não contar pra ninguém. Você vai fazer isso?
– Não, só vou divulgar na imprensa que descobri os dados do seu cliente através de você.
Novamente eu e meu amigão trocamos altas gargalhadas.
– Anota aí, velho.
Anotei.
– Finalizando, uma observação importante: no item relativo à disponibilidade de horário, ele diz que tem disponibilidade total, mas prefere trabalhar de manhã e de tarde porque faz faculdade à noite. Agora, sabe qual faculdade? A mesma que a gente fez.
E que fica a poucas quadras daqui, pensei comigo mesmo. E cujo turno da noite começa dentro de uma hora.
– Como eu posso te retribuir, Saulo?
– Indo jantar lá em casa qualquer dia desses. A Giselda e as crianças têm sentido sua falta.
– Com certeza eu vou, amigo. Um abração pra você e muito obrigado.
– Espero que você finalmente entre para o rol dos homens sérios. Tudo de bom pra você e que Deus te ilumine.
Desliguei. Entrei no meu carro e fui direto para o portão principal da faculdade.
É claro que muitas coisas me ocorreram: se ele tivesse carro, não entraria por aquele portão... sendo um jovem modelo em ascensão, talvez não comparecesse hoje à universidade porque fora trabalhar... ele poderia debitar parte ou até mesmo o todo da mensalidade trabalhando lá dentro – prática que eu e Saulo fizéramos em nossa época... ele poderia já estar na universidade estudando para alguma prova... todas essas possibilidades me passaram pela cabeça, e, na solidão de meu carro, eu refletia a respeito. Até que ele chegou.
Quando o vi chegar, dei-me conta de um deslize inacreditavelmente óbvio: Saulo me dera todos os dados que eu pedira – mas eu não perguntei o nome do rapaz!
Chocado com a minha ineficiência quanto a isso, dei um tapa em minha testa e sacudi o rosto. Como disse, eu estava sentado em meu carro, obviamente no banco do motorista. Ao movimentar a cabeça, vi, na poltrona, a revista que eu comprara. Não tive dúvidas: eu a peguei e saí do carro.
O rapaz se aproximava. Ele era alto, e vinha desacompanhado. Fazia frio naquele princípio de noite, e ele usava um conjunto esportivo de moletom azul escuro sobre algo que me pareceu uma regata amarela. Para minha excitação, calçava chinelos, os pés à mostra – pés realmente grandes, muito grandes, sem pelos sobre o mesmo, mas inteiramente másculos, compridos e arqueados.
Ele era lindo.
Eu o abordei, mostrando-lhe a revista, à página da propaganda do parque.
– Foi você que tirou essa foto aqui?
– Foi. – ele respondeu após um breve momento de susto. Natural, pela abordagem intempestiva.
– Pode autografar? – e, após pausa: – Por favor?
Ele sorriu, pegou a revista e a autografou. Meu, que sorriso lindo! De alguma forma, parecia até que já estava interessado em mim. Quem dera!
Um autógrafo é sempre um gesto rápido: a celebridade, ou seja quem for o autografante, escreve nosso nome, manda um abraço e assina. No meu caso, pode-se dizer que foi ainda mais rápido, porque, da mesma forma como a recíproca, o rapaz também não sabia meu nome, e nem mesmo o perguntou: ele provavelmente escreveu algo como “Saudações”, “Obrigado pelo carinho” ou coisa assim, assinou e, antes que eu me desse conta, já me devolvia a revista – que eu recolhi automaticamente – deu-me as costas e foi saindo. Seus primeiros passos me proporcionaram uma visão de sua sola deliciosa sobre o chinelo. Foi quando eu vi que não podia deixar passar. Era tudo ou nada.
Fui até ele e o segurei pelo braço, fazendo-o parar. Um gesto sem violência, mas com firmeza. Uma firmeza que o fez olhar assustado para mim.
– Cara, desculpa. Eu sei que é ridículo, mas... é... você gostaria de tomar um sorvete comigo?
Sorvete. Nesse frio infernal que aumentava cada vez mais à medida que a noite caía. Mas agora era tarde. Olhei firmemente para ele, diretamente em seus olhos, olhos espetacularmente lindos, mas com um ambíguo ar de sofrimento. Olhei firmemente para ele, encarando-o, aguardando uma resposta.
Silêncio total. Exceto pela minha respiração acelerada.
Você é viado, é? Tá achando que eu sou bicha, por acaso? Deus, quantas vezes eu já escutara respostas como essa, de rapazes que me interessaram. Mas, com quarenta e cinco anos, a gente aprende que as oportunidades não podem ser desperdiçadas. Se eu escutasse isso desse rapaz com idade para ser meu filho, seria apenas mais uma vez dentre muitas. Ser gay tem um preço.
– Sorvete, não. Que tal um chocolate quente?
Eu sorri de alívio. Como resposta, ele também sorriu para mim.
Fabiano tinha vinte anos. Filho único desde a morte do irmão mais velho em um acidente de trânsito, viera do interior do Rio Grande do Sul e morava com os pais – um militar reformado homofóbico que sequer desconfiava da orientação sexual do filho e uma dona-de-casa submissa. O pai não via com bons olhos a profissão do filho, mas passou a fazer vista grossa quando os trabalhos começaram a acontecer e o dinheiro começou a entrar. Pela propaganda do parque aquático, veiculada nacionalmente para atrair turistas, ganhara mais que um mês de aposentadoria do pai – e isso é um diferencial que não dá para contestar, principalmente para uma família de classe média baixa.
Mas em relação à sua homossexualidade, não havendo nenhum tipo de compensação financeira, não haveria como atenuar a homofobia irrestrita do pai.
Estávamos no bar, nossas canecas de chocolate praticamente concluídas. Fabiano estava com a cabeça encostada à parede, fazendo um balanço involuntário de sua vida, sentado sobre as pernas em X, chinelos no chão. Nessa posição, eu observava em primeiríssimo plano sua sola magnífica, o mais lindo pé de homem, portanto o mais lindo pé que eu já havia visto na vida, gigantesco e largo, as linhas da sola deliciosamente visíveis, o arco plantar perfeito, me levando a um estado de arrebatamento e excitação que transcendia tudo o que eu já sentira na vida antes. No meio de minhas pernas, eu sabia que não possuía mais um pênis: naquele momento, eu possuía um cilindro de cimento. Minhas bolas pesavam de tanto produzir sêmen.
Biano prosseguia em seu depoimento.
– Eu conheço meu pai. Ele me mataria se me visse na cama com outro homem. – Fabiano falava isso com a naturalidade de quem já contara isso para outras pessoas, mas era impossível não perceber o tom de tristeza ao concluir sua revelação.
Eu o acariciei. Era um problema que ele tinha que enfrentar em seu dia a dia, e que obviamente o incomodava. – percebia-se isso pela tristeza nos lindos olhos, pela mordidinha que seus dentes – com um esmaltado perfeito, e que ele garantiu serem naturais – dava no nó do polegar. Eu o abracei, e ele encostou a cabecinha em meu ombro. Nos beijamos. Um beijo libertador, apaixonado, que começou suave e romântico e terminou com a força e intensidade que só dois machos poderiam ter.
– Quer ir pra minha casa?
Fiz o convite e o acariciei paternalmente. Paternalmente? Sim. Querendo ou não, de certa forma eu estava mais para paizão que para namorado do Fabiano. O que poderia ser um incômodo. Mas eu senti nitidamente, e percebi que ele também sentiu a mesma coisa, que isso seria um ponto a favor em nosso relacionamento.
Ele estava com a cabeça recostada em meu tórax. Na verdade eu havia há muito desabotoado a camisa – o aquecimento do bar permitia isso – deixando, e eu juro que sem a mínima intenção, meu peito cabeludo à mostra. Isso permitiu que, recostado em mim, ele acariciasse meus pelos, enquanto eu lhe fazia cafuné nos cabelos sedosos. A resposta a meu convite, contudo, demorava a vir.
– Fernando, eu preferia que nós fôssemos para a minha casa, e não para a sua.
Assustei-me.
– Mas... seu pai.
– Ele não está. Saiu com a minha mãe, vai dormir fora.
Concordei. Gostava de brincar com essa discreta periculosidade, temendo a possibilidade inexistente de ser surpreendido, quando racionalmente sabia perfeitamente que isso não iria ocorrer.
Paguei a conta e voltamos para o carro, que continuava parado à entrada da faculdade. Fabiano sentou-se a meu lado. Até aí era algo óbvio. Mas foi com animada surpresa a posição na qual ele se sentou: em quatro, com a perna direita sobre o joelho esquerdo, o chinelão balançando enquanto Biano movimentava o enorme pé, até o calçado cair no chão do veículo. Passei a viagem toda com a sola deliciosa de Fabiano praticamente no meu rosto, as linhas do pé como pistas de trânsito que eu adoraria trafegar, e eu precisaria dar a volta ao mundo para percorrer um pezão daquele tamanho. Não foram poucas as vezes – eu as contei, foram sete – que o pé de Fabiano encostou em meu braço, em minha pele. Minha camisa era de mangas compridas, mas, após o primeiro toque, aguardei o que me pareceu uma eternidade para o carro parar em um farol. Quando aconteceu, dobrei as mangas até quatro dedos acima do cotovelo.
Fabiano não lamentou haver perdido a aula, era nítido que via seu curso – odontologia, algo que não tem nada a ver com ele – como uma função burocrática feita para dar um pouco de conforto aos pais (no carro Fabiano me contaria que seu curso era o mesmo que o irmão fazia antes de morrer num acidente de trânsito): sua verdadeira paixão era a carreira de modelo. Realmente, meu namorado era bonito demais, e eu sabia que, para que começasse a brilhar como um dos grandes modelos do país, era apenas uma questão de tempo.
A casa de Fabiano era modesta, situada em um trecho humilde de um bairro operário. Tinha dois quartos, uma pequena sala, cozinha e um banheiro – como comparação, eu morava sozinho em um duplex com três quartos, dois banheiros, cozinha americana, ar condicionado e aquecimento.
Fiquei observando a casa, enquanto Fabiano foi até a cozinha e voltou com dois copos de refrigerante. Eu o surpreendi: ao me virar em sua direção, meu pau estava fora da calça, ereto, uma jeba rosada da qual eu tanto me orgulhava. Mas tosquei e fui tosquiado, porque a surpresa que Fabiano me proporcionou foi maior: ele estava nu.
Peguei um dos copos e beberiquei meu refrigerante, olhando aquele corpo delicioso que eu estava prestes a saborear: a pele rosada, o tórax liso, as pernas peludas e magnificamente torneadas, mas, acima de tudo, o pezão. Mais que o pênis grande e levantado, o pezão.
Fabiano sentou-se no sofá e repetiu a posição do “quatro”, a sola voltada para mim. Deus, ele sabia! Eu não lhe falara nada, mas ele não era o interiorano ingênuo que demonstrara à primeira vista, e certamente sacara minha reação e minhas atitudes dentro do carro: Fabiano não estava sentado em quatro. Ele estava intencionalmente me exibindo a sola.
Permiti-me uma façanha histórica: desviei o olhar de sua sola. Olhei para seu rosto, graciosamente imberbe. Ele sorria para mim, o copo de refrigerante à mão. Sem arquear as sobrancelhas, sem apontar com a cabeça para lugar nenhum, sem falar nada, seu olhar moleque era puro convite. Sexo.
Eu estava lá, de pé no meio daquela humilde sala, um copo de refrigerante na mão, sem haver experimentado sequer uma gota, o peru para fora da calça, ereto como uma barra e quente como uma brasa. Eu também sorri para ele. Larguei o copo e me despi.
Inteiramente nus, Fabiano e eu trocamos o mais lindo e apaixonado beijo que eu já havia experimentado. Estávamos em pé, abraçados, absolutamente entregues um ao outro. Matreiro até o fim, Fabiano começou a esfregar seu pezão, sua sola, por minhas pernas, minha panturrilha, acariciando meus pelos com aquela parte extraordinária de sua anatomia. Apoiado em um pé só, o outro pé percorria agora minha canela cabeluda, o interior da minha coxa, fazendo uma cosquinha indescritivelmente deliciosa em minha virilha. Se fosse possível, meu pau teria ficado ainda mais duro do que já estava, e parecia que eu iria ter duas ereções, se a natureza permitisse um troço desses. Meu culhão deve ter dobrado de tamanho, de tanto sêmen que produzia. Eu peguei Fabiano pela cintura, enlaçando-o, e suas duas solas começaram a esfregar minhas costas. Quando o vi, estávamos em seu quarto, deitados em sua cama, absolutamente entregues um ao outro.
Eu peguei com avidez seu pezão e literalmente comecei a devorar sua sola, mordendo-a, lambendo-a, segurando aquele pé gigantesco como se eu o quisesse de todas as formas e de forma absoluta. Entregue a essa situação, estava de olhos fechados, mas, tocando no pênis de Fabiano com uma das mãos enquanto a outra acariciava sua sola, observei que a ereção de meu namorado era no mínimo idêntica à minha, o pênis igualmente enorme latejando de delírio e tesão. Meu pau era uma rocha, e chegava a doer de tanto felicidade. Pensei em virar Fabiano de costas e penetrá-lo, e foi uma grata surpresa quando percebi que ele é que me penetrava, aquele pirocão de vinte anos mandando bala em meu rabo quarentão. Gozei. Gozei com um berro de dor, um berro de prazer, como um cabrão descobrindo a felicidade. Mas quem disse que paramos? O amor era demais. Deus, a palavra era essa: eu não me contentava apenas em fazer sexo com Fabiano. Eu estava apaixonado por ele.
– Caio!!!!!!!
Senti imediatamente o pau de Biano amolecer dentro de mim. Ele se afastou, acuado, arfando, e, mesmo sem tê-lo em meu campo de visão, eu podia sentir o medo germinando por seus poros. Um homem, nitidamente seu pai, estava parado na porta, com fúria no olhar. Ao fundo, uma mulher frágil e acuada ficava sem saber o que fazer. Quanto a mim, estava na cama de Fabiano, de cócoras, com seu pênis ainda dentro do meu cu. Claro que, com a interrupção e o choque, Fabiano retirou-o de mim. De qualquer forma, porém, permaneci na mesma posição, com o rabo empinado em direção ao rapaz, constrangido e temeroso.
Nenhum de nós poderia precisar o exato momento em que o pai de Fabiano saiu e voltou com uma arma na mão. A mulher urrava sons guturais, impotente.
– Filho gay, não! Eu vou matar você, Caio.
O homem ia atirar e matar o filho. Eu não pensei duas vezes: me joguei em frente à arma, prestes a morrer pelo homem que amava. O tiro disparou.
Disparou e acertou o teto. A mulher levantara o braço do marido a tempo, fazendo com que o disparo fosse para o alto, e não para a frente.
Levou aproximadamente um segundo, entretanto, para que eu percebesse isso, e desesperado eu gritei:
– Fabiano!!
Ele estava bem. Meu namorado tremia, mas estava bem. Eu o abracei e beijei. Em seguida, olhamos para as outras figuras presentes.
O velho chorava. De certa forma, parecia que ele se dera conta do que poderia ter acabado de fazer, matando o único filho que lhe restava. Céus! Tudo indicava que, em sua mentalidade tacanha, somente agora, após as vias de fato, ele conscientizou-se que, se houvesse matado o filho, teria sido para sempre. Somente quando pensara que já era tarde demais, que o filho já estaria morto, é que se deu conta do seu gesto. Ao constatar isso, fiquei com pena daquele homem, vítima de uma educação retrógrada e sem oportunidades de questionamento.
A esposa o abraçou. Ele chorava copiosamente. Por um segundo, o pobre velho acreditara haver perdido seu último filho. Fabiano também chorava, lágrimas de compreensão percorrendo seu rosto. Observei que ele havia vestido a cueca e uma bermuda, e também foi abraçar o pai.
Este estendeu os braços para o filho.
– Caio...
Apesar de embevecido com a pureza da cena e sua sublime redenção, não pude deixar de perguntar:
– Caio?
Abraçado ao pai, ele se virou para mim:
– Meu nome é Caio Fabiano. Mas eu não gosto muito do meu primeiro nome. Parece que estou caindo, e eu quero subir.
Eu sorri perante o comentário. A mãe de Caio também, acariciando os cabelos do filho. Quando vi, o velho militar, já mais conformado, olhava para mim. E foi com doçura que me perguntou:
– Você realmente iria se permitir morrer para salvar meu filho, rapaz?
Eu não sabia o que dizer. Estava tão comovido que minha voz demorava a sair. E confirmei balançando a cabeça.
– Sim. – finalmente disse.
– Sim, por ele eu morreria.
– Deus, isso é amor. Isso é amor – constatava o velho, andando a esmo alguns centímetros ao redor de si mesmo. Fiquei com a sensação que ele se lembrava do filho mais velho, morto sem ter a oportunidade de que alguém pudesse salvá-lo.
– Vocês se conhecem há muito tempo? – indagou aquela sofrida mulher que me salvara a vida.
Comecei a fazer as contas.
– Cinco... seis...
– Seis meses já, Caio? – perguntou sua mãe. – Eu nem desconfiei de nada.
– Não, minha senhora. – corrigi. – Seis horas. Incompletas.
– E fez isso pelo meu filho?
– E faria de novo, senhor.
O velho olhou para mim, nitidamente abatido.
– Então... – disse ele – permita-me abraça-lo. Seja bem vindo. Meu querido genro.
Nós quatro nos abraçamos. E eu me senti um legítimo membro daquela família.
Isso tudo aconteceu há oito meses. Hoje, Caio mora lá em casa, e estamos planejando nosso casamento – ainda faltam algumas definições, como se certos primos preconceituosos dele serão convidados para a festa ou não. Definida mesmo está a lua-de-mel: será num certo parque aquático, antes de uma viagem. Bom, é verdade que o destino da viagem também não está definido, mas a ida ao parque está.
Caio trancou a matrícula da faculdade, e se dedica exclusivamente à carreira de modelo. Todo dia, é com o mesmo amor e a mesma intensidade que nos entregamos um ao outro, e não há palavras para descrever a felicidade que sinto ao acordar todos os dias com os pezões de meu marido a meu lado, suas solas deliciosas sobre mim, eu as contemplando enquanto ele ainda dorme – um modelo pode dormir um pouquinho mais que um arquiteto, não é mesmo?
Quando ele me perguntou como eu cheguei até ele, contei que tinha um amigo publicitário que arriscou o emprego e a carreira pelo nosso amor, fornecendo-me seus dados. Estávamos passeando num parque perto de casa, de mãos dadas, e nos encontrávamos recostados em uma frondosa árvore tomando sorvete. Biano descalçou os chinelos e eu acariciava sua lindíssima sola enquanto lhe narrava os detalhes.
– Ah, então foi assim. E que amigo é esse?
– Um amigão de infância, heterossexual. Saulo Abreu. Conhece?
– Saulo Abreu?! O marido da Giselda? Claro que conheço, já fiz trabalhos na agência dele.
– Marido da Giselda? Então você conhece a família dele?
– Você esqueceu que a Giselda é psicóloga? Ele me indicou a esposa quando eu confidenciei que minha família não podia sequer desconfiar da minha homossexualidade e que eu não conseguia lidar com meus temores em relação a isso.
Eu não pude conter algumas risadas.
– Então o Saulo sabia... e ele disse que... meu Deus, o pilantrinha ficou me pondo o terror.
Biano riu.
– Amor, acho que já temos mais uma definição para o nosso casamento: nossos padrinhos.
– É verdade.
Nos abraçamos.
Era um belo dia de domingo, e prosseguimos em nosso passeio. O sol parecia rescindir sobre o pé de meu marido, e embelezava ainda mais a sola de Fabiano.
Mais do que nunca, eu estava me sentindo feliz.
Autor: Carlos Dunham
2 comentários:
Ótimo conto.Parabéns
Ótimo Conto. Parabéns
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